A onda de violência que se instalou no Espírito Santo no último dia 05 de fevereiro, ganhou as manchetes nacionais de grandes veículos de comunicação. Referência quando o assunto é Economia e gestão pública, o jornal nacional Valor Econômico também está dando destaque aos acontecimentos em terras capixabas e nesta segunda-feira (13) entrevistou o deputado estadual Sergio Majeski (PSDB).
O repórter Cristian Klein, do Rio de Janeiro, observa bem a postura de Majeski em seu mandato: "a voz solitária da oposição na Casa (Assembleia Legislativa)". Em sua reportagem "Politização do movimento de policiais do ES é controversa", o jornalista destaca o parlamentar como um contraponto às justificativas do Governo do Estado para o momento de insegurança que os capixabas vivem.
"O governo tenta criar um bode expiatório para se eximir da gigantesca culpa de ter sido arrogante, intransigente. Não vejo ninguém envolvido de forma maquiavélica ou sorrateira neste processo", diz o deputado.
- Confira a reportagem na íntegra:
"Politização do movimento de policiais do ES é controversa"
por Cristian Klein
Com a imagem abalada pela crise de segurança pública que amedronta o Espírito Santo, o governador Paulo Hartung (PMDB) vem afirmando que a greve branca dos policiais militares no Estado é alimentada por adversários. A tese de politização do movimento dos PMs cuja paralisação levou a uma onda de violência, com mais de cem assassinatos é controversa.
No terreno doméstico, Hartung praticamente não encontra resistência na Assembleia de 30 deputados. Os dois representantes do PSB, legenda de seu maior opositor, o ex-governador Renato Casagrande, não lhe causam problema. Cabe a Sergio Majeski, 50 anos, a voz solitária da oposição na Casa. Em seu primeiro mandato, o professor de geografia rebate o pemedebista, que afirmou haver a "mão peluda" da política na greve dos policiais. "O governo tenta criar um bode expiatório para se eximir da gigantesca culpa de ter sido arrogante, intransigente. Não vejo ninguém envolvido de forma maquiavélica ou sorrateira neste processo", diz o deputado, opositor embora pertença ao PSDB, partido do vice-governador César Colnago.
Majeski afirma que não houve politização. "Isso é bobagem. Por que [o governador] não cita quais políticos e como estão agindo?", questiona. O parlamentar aponta que seu colega na Assembleia, Josias Da Vitória (PDT), 44 anos, um cabo reformado, tem "óbvia ligação", mas que "em nenhum momento insuflou" o movimento.
Da Vitória afirma que o movimento "nasceu do embrião das esposas dos policiais. "Rede social é um negócio perigoso", dá sua explicação. Estrategicamente, o protesto no Espírito Santo conta à frente com as mulheres dos PMs, já que a greve é proibida pela Constituição.
O deputado afirma que a culpa pelo movimento ter ganhado força é do próprio governo, quando tentou desqualifica-lo. "Não existe isso de politização. É o governo querendo se eximir de suas responsabilidades. Não gosta de ser cobrado, pelo que estou percebendo", diz. Da Vitória rebate as acusações de que vem sendo alvo e afirma que já registrou denúncia na Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos contra empresas que teriam disparado mais de 2 milhões de mensagens numa campanha "falsa e vergonhosa", segundo a qual ele estaria incitando a greve. "Estão me dando um tamanho que não tenho. Daqui a pouco, dirão que matei o Bin Laden, derrubei as Torres Gêmeas e elegi o Trump", ironiza.
Majeski e Da Vitória participaram de uma reunião com as mulheres dos PMs e as associações de praças e oficiais, na Assembleia, na terça-feira, a partir de quando Hartung passou a enfatizar a politização da greve. Na manhã seguinte, o governador diria, em entrevista coletiva, que "políticos" haviam se reunido "escondidos" para estimular o pedido de aumento salarial de 43% que custaria aos cofres públicos R$ 500 milhões.
Personagem central da reunião, a senadora Rose de Freitas do PMDB, mas adversária interna de Hartung entrou no rol de supostos conspiradores. A parlamentar afirma que o encontro foi transparente, com 22 deputados e Ordem dos Advogados do Brasil. Rose nega que tenha inflamado os ânimos. "Fui chamada para ajudar, como o arcebispo, o Ministério Público, todo mundo. Precisavam de alguém para dialogar", diz.
Rose destaca que as demandas salariais não justificam a greve. "Essa paralisação foi completa, de 100%. Parou o Estado inteiro, lojas saqueadas, uma loucura. Presenciei assaltos, tive que voltar do meu trajeto, não conseguia comprar pão, nem o meu remédio, que acabou na farmácia. Com a justeza da reivindicação, me desculpe a PM, mas tinha que ter tido, pelo menos, um percentual [de policiais trabalhando]", critica.
Para o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), "ninguém tem dúvida de que ela [Rose] gostaria de ver a decadência política dele [Hartung]". "Mas não acredito que ela tenha feito ato neste sentido [de insuflar a greve]", diz. O parlamentar, no entanto, concorda com a tese de politização. Vê uma "mão de fora" das fronteiras capixabas.
Em sua opinião, Hartung e Espírito Santo despertaram inveja e incomodaram quando apareceram como exemplos de austeridade e gestão penitenciária, em meio às graves crises fiscal da União e de entes da Federação e do sistema prisional, que estourou no mês passado. O deputado critica a "traição" do Estado do Rio cujo governador Luiz Fernando Pezão anunciou aumento aos PMs em meio à crise capixaba. "Foi uma irresponsabilidade. Quis jogar o Rio contra o Espírito Santo. Isso incrementou a resistência da greve aqui", diz.
Além do PMDB do Rio, Dos Anjos vê interesse da cúpula nacional do partido do presidente Michel Temer em desconstruir a imagem de Hartung. "Eles não engolem por ele ter destaque nacional e ser considerado de esquerda. O PMDB tem que ser controlado por pilantras", diz.
Para Majeski, Hartung criou boa imagem nacional, por meio de publicidade, mas "aqui tem o apelido de imperador, de pessoa vingativa, que não aceita afronta". "Foi ferido no seu ego. A crise mostrou que é um ídolo de pés de barro".
Secretário da Casa Civil, José Carlos da Fonseca Júnior rebate as críticas dos deputados. Classifica Majeski de oposicionista de linha inflexível, e considera "compreensível" o posicionamento de Da Vitória, por ser líder dos PMs: "É a linha corporativista".
Fonte: Valor Econômico Link para a matéria: http://bit.ly/2kPdcJN