Diante dos indícios de que o Governo do Estado pretende instalar uma unidade do Escola Viva no lugar da Escola Maura Abaurre, em Vila Nova, Vila Velha, os alunos foram às ruas nesta segunda-feira (05). Para além de implementar seu projeto marqueteiro sem ouvir, mais uma vez, as comunidades atendidas por essa escola, o governo ainda quer tirar o modo presencial da EJA, oferecendo-a apenas na plataforma digital. Ontem, os alunos levaram seu recado para o Governo do Estado e a SEDU: “queremos professor e não computador!” e receberam o apoio do deputado estadual Sergio Majeski (PSDB).
Atualmente, a Maura Abaurre funciona em um prédio alugado no bairro Coqueiral de Itaparica, pertencente a uma faculdade particular. O valor mensal do aluguel é - pasmem! - de R$ 33.512, 42. Entre outubro e novembro do ano passado, Majeski visitou a unidade e disse estar abismado com as condições que os professores e alunos se encontravam naquele espaço.
"As salas são verdadeiros cubículos. A cozinha está proibida de funcionar devido a interdição realizada pela Vigilância Sanitária. Com isso, os alunos se alimentam apenas de pão e biscoitos cream cracker. Não há infraestrutura, como biblioteca ou laboratórios. É na verdade um espaço muito ruim", declarou.
"O absurdo maior é que, já naquela época, o prédio original da unidade estava quase pronto. E, embora a previsão dada para a comunidade pela SEDU para entrega da reforma fosse abril desse ano, até agora não foi entregue. Entra na cabeça de alguém um absurdo como esse?", concluiu.
A escola Mauro Abaurre atende os bairros vizinhos da comunidade que são Colorado, Jardim Asteca, Novo Mexico, Santa Mônica, Boa Vista, Soteco, Santa Ines, Ibes, Itaparica, Vila Nova.
Confira o relato dos alunos que coletamos durante o protesto dessa segunda-feira.
“Sou professor DT da escola Maura Abaurre. E sou ex-aluno do ensino fundamental de 93. O governo que acabar com a EJA e transformar o Maura em uma escola polo, os chamados CEEJA, com aula em computador. Além disso, não entrega o prédio pronto da escola. Inventaram reparos emergenciais pra segurar a obra até dezembro e ano que vem colocar o Escola Viva. A comunidade, os professores e os alunos não querem Escola Viva. A Maura Abaurre atende a cinco bairros”, professor, que não quis se identificar.
“A reforma da escola começou em 2011. Assim que ela acabou, a Sedu abriu licitação para reparos emergenciais. O que significa que a secretaria não quer entregar a nova escola. Poderíamos estar lá desde dia 24 de abril desse ano. Depois deram um novo prazo para junho. Mas ainda não fomos para lá. Estamos em uma escola precária, em um prédio alugado, com custos altíssimos, mas que não tem estrutura nenhuma. Nem biblioteca, nem cozinha para fazer merenda, porque essa foi embargada pela vigilância sanitária, muito menos laboratórios de informática e química. A instalação elétrica está exposta, os vidros estão quebrados, os azulejos estão soltos, as portas caindo. Não tem como os alunos estudarem assim”, professor, que não quis se identificar.
“A Sedu quer colocar o Escola Viva a partir de fevereiro do ano que vem. E a EJA, estão querendo colocar o ensino à distância. Querem fazer da Maura Abaurre, uma escola polo. Mesmo contra a vontade dos alunos, dos pais e da comunidade. Estou há 10 anos fora da escola. Não consigo acompanhar as aulas pelo computador. Tem que ser ensino cara a cara com o professor”, Janaína Ramos, aluna.
“Nós, alunos do EJA, precisamos de um apoio maior, de uma pessoa junto ensinando, tirando as duvidas pessoalmente. Assim já temos dificuldade, imagina se for por computador? Na nossa sala tem uma pessoa de 52 anos que não consegue acessar o computador, não sabe. Como ela vai tirar dúvida?”, Raquel Neves, aluna.
“A Sedu nunca nos ouviu sobre o Escola Viva nesse prédio”, Janaína Ramos, aluna.
“A merenda todo dia é a mesma coisa: pão, biscoito cream cracker, bolo. Não podemos se quer repetir. Precisa assinar uma ficha para provar como estamos comendo e quanto estamos comendo”, Luiz Fernando, aluno.
“O Estado está pagando um dinheiro alto mensal para manter a escola nesse prédio alugado. Não vale a pena. E nós temos uma escola praticamente pronta e o Estado não nos transfere para lá”, Leonardo Nunes, aluno.
“As condições não são perfeitas aqui. Tenho certeza que o Estado poderia dar coisa melhor. Eu vi a escola ser construída. Estudei lá em 82. Retomei meus estudos agora. Eu gostaria muito de voltar a estudar no bairro que eu moro, já que eu pago meus impostos, vi o bairro crescer. Não acho justo o Estado pagar 32 mil reais por uma escola que não tem se quer cadeira em perfeitas condições para os alunos sentarem”, Leonardo Nunes, aluno.
“Além de uma melhor estrutura, queremos mais inclusão social. Tivemos casos de alunos com deficiência auditiva, que não tiveram professores para atender suas necessidades, e tiveram que desistir dos seus estudos. Queremos inclusão de todos os deficientes e de todas as pessoas que têm o direito a educação”, Natália Dumer, aluna.
Assessoria de Imprensa Fiorella Gomes